Esse doce me remete a uma época que, apesar de ainda criança, já tinha um paladar aguçado, gostava de apreciar os sabores tropicais e exóticos. Só para ilustrar, vale recordar que se comia pequi com feijão num dia qualquer da semana, sem nenhum requinte ou algo especial para celebrar, apenas comer com gosto! Voltando ao doce, guardo na minha memória visual aquela cor "vermelho cereja" quase viva, que me fazia salivar. Na memória gustativa lembro de uma textura firme, porém macia, adocicada com suave toque de cravo. Ao retornar da escola, próximo de casa, sempre dava um espiadela na vitrine da "mercearia" do seu Dudu, era lá que a Dona Lourdes colocava o doce em compotas de banana e o vendia em porções, de uma ou mais unidades da fruta (talvez por isso a compota é feita da fruta inteira), acompanhada por aquela calda suave realçada por toques cítricos que acredito ser da casca de laranja ou de limão.
Foto: acervo pessoal
Não tive o prazer de receber a receita deste doce da D. Lourdes. Anos depois, já dona de casa e amante da gastronomia, resolvi reconstruir e elaborar esta receita, como segue:
Ingredientes:
10 bananas verdes (com sinais de mudança de cor na casca);
01 litro de água;
800 g de açúcar cristal;
12 unidades de cravo da Índia;
cascas de laranja ou limão
01 xícara de vinho madeira (ou vinho do porto);
Modo de Fazer:
Descasque as bananas e coloque-as numa panela de pressão com a água e o açúcar e a metade dos cravos. Deixe ferver em pressão por 25 minutos. Quando abrir a panela, as bananas estarão macias e avermelhadas, (algumas estarão abrindo-se ao meio), mexa-as com cuidado mudando de posição, adicione o vinho, as cascas cítricas e o restante dos cravos. Deixe cozinhar em fogo baixo por mais uns 15 minutos. Deposite numa compoteira e sirva quente ou gelada, sozinha ou acompanhada de sorvete de creme.
Não posso dizer que, naquela época, já era uma gourmand - apreciadora da alta gastronomia conscientemente, mas posso dizer que a experiência com esta iguaria foi fundamental para apurar o meu paladar, por ser completa e agradar todos os sentidos.
Faça você mesma, volte aos tempos da vovô e sinta-se imensamente feliz! E para completar a sua felicidade segue um trechinho de poema de autoria de Casimiro de Abreu:
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonho, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
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